Spangle call Lilli line

O que acontece quando uma ilustradora, um designer gráfico e um fotógrafo decidem fazer música? É difícil escrever sobre SCLL sem me emocionar, existe uma beleza única em seu som e pra mim foi algo totalmente novo dentro do que eu costumava escutar. Spangle call Lilli line é uma banda calma composta por três grandes amigos, sua sonoridade varia a cada álbum, por isso não dá pra encaixá-los num único gênero, mas no geral são uma banda de som minimalista que varia entre post-rock, pop, down-tempo e piano com cantos tão suaves que mais parecem sussurros. Apesar de todos os rótulos, eles próprios se definem apenas como post-rock.

Pensei muito em começar apresentando uma música post-rock deles, mas nada como Set Me para abrir esse post, nessa música é possível notar o lado minimalista da banda, o som simplesmente te leva embora a partir do momento que você se deixa envolver, você tem quatro minutos para esvaziar a mente e não tem sensação melhor que a de se entregar nos próximos três.

A banda tem um compromisso maior com o que soa do que com o que significa, suas letras são somente palavras soltas e até o nome da banda foi escolhido baseado somente na sonoridade das palavras. Numa entrevista eles até brincam com isso, pois, segundo a gramática, deveria ser Spangle calls ao invés de Spangle call. Enquanto escreve as letras, Otsubo costuma tentar usar palavras japonesas que são pouco usadas no dia a dia, como se estivesse mostrando para os outros japoneses que elas existem. Coisas como o contraste entre preto e branco de uma xícara de café e fragmentos de memória relacionados a palavras servem como inspiração para as músicas.

A ideia de criar uma banda veio em 1999, quando Otsubo encontrou Fujieda por acaso numa casa de show em Shibuya, ambos já se conheciam antes disso pois frequentavam a mesma faculdade e tinham muito tempo livre. Decidiram que duas pessoas não eram o bastante para formar uma banda, mas, por ironia do destino, Sasahara, que também estudava com eles, havia acabado de deixar justo a banda que eles foram assistir. Pelo fato dos três serem amigos, consideravam que tinham gostos decentes e acharam que poderiam compartilhar o mesmo tipo de sensibilidade na música e foi assim que começaram, sem nenhuma idéia ou conceito do que tocar, sem perguntas sobre que tipo de banda ou som o outro preferia, o nível deles era de simplesmente ligar o amplificador e fazer algum som sair dalí nos finais de semana como uma forma de abstrair o stress.

SCLL
Kiyoaki Sasahara (guitarra, composição), Kana Otsubo (vocal, composição, letras), Ken Fujieda (guitarra, composição)

No primeiro ano da banda, não aconteceu nada, não havia planos de lançar CDs e quem tocava bateria era Otsubo enquanto cantava, mas não estava dando muito certo. Decidiram então chamar outro amigo, Kasabawa Nobuyuki, para se juntar a banda e no primeiro jam que fizeram, o som da banda mudou de tal forma que eles conseguiram ver qual o formato a banda passaria a adotar.

Fujieda: Somos sempre perguntados sobre o que queremos fazer, que tipo de música, em qual gênero, mas ainda não sabemos, então fazemos sons aos poucos. (…) Vemos se podemos andar por algum lugar ou não, se vamos voltar depois de mergulhar, se escalamos montanhas ou se vamos ao oceano.
Entrevistador: Então vocês enxergam fazer música como uma coisa da natureza?
Fujieda/Sasahara/Otsubo: Sim, uma coisa da natureza!
Otsubo: (…) Cada um de nós faz uma parte das músicas.
Fujieda: (…) Não somos músicos solos fazendo nossas próprias músicas, então as músicas normalmente terminam de uma forma diferente do que cada um pretendia.

Apesar de todo o talento, eles nunca planejaram sair de Tokyo e têm se ocupado mais com o trabalho fora da música que tem exigido cada vez mais tempo deles. Além do pouco tempo livre, Kana Otsubo ficou grávida há alguns anos, mas mesmo assim, conseguiram gravar um álbum em 2015 intitulado Ghost is Dead, confira umas das músicas.

Kana Otsubo possui um projeto paralelo de música experimental/eletrônica chamado NINI TOUNUMA enquanto Fujieda e Sasahara têm um projeto de música ambiente/neo-clássica juntos chamado Ten to Sen (Dot and Line). Spangle call Lilli line é uma banda pouquíssimo conhecida no ocidente, mas que serviu de inspiração para Yumi Uchimura que criou a School Food Punishment, outra banda que amo igualmente. Com isso, encerro meu post, tentei colocar o máximo de curiosidades possível, uma vez que eles são pouco conhecidos por aqui e devem ter fans brasileiros que não acham material sobre a banda em português.

Publicado por

Jefferson

Faz engenharia da computação, gosta de animes, música japonesa, drum n' bass e jogos de corrida. One among the fence.

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